sexta-feira, 2 de outubro de 2020

onde as maçãs crescem, Carlos Lopes Pires 2020

 



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ed. 2020
O autor teve a amabilidade de me convidar, como amigo, para colaborar na sessão de apresentação do livro, no dia 12 de Setembro de 2020, no jardim da Casa-Museu João Soares. Estávamos em tempo de contingência da pandemia COVID-19, por isso viemos para o ar livre. O tempo estava majestoso e a sessão, bem concorrida, correu muito bem.
Participei dizendo umas palavras de carinho e de abono sincero à pessoa do autor e à sua obra. Quem fez a apresentação propriamente dita foio nosso comum amigo e escritor Luís Vieira da Mota.
Eis o que eu disse:
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Onde as maçãs crescem


Minhas Sras e meus senhores

amigos

Carlos Lopes Pires é um poeta constante. Já o escreveu taxativamente MFM (Manuel Frias Martins) na sua impressionante recensão crítica, que publicou no nº 201 Maio/Agosto2019 da sempre conceituada revista COLÓQUIO|Letras, a propósito do “a noite que nenhuma mão alcança” dado a lume há dois anos atrás.   Já?!

Nós estamos aqui hoje e desta forma, somos, também, testemunhas do intenso labor poético de Carlos Lopes Pires que soma mais de um quarto de século a publicar Poesia sempre rodeado de amigos que comungam esta sua faceta profundamente humana.

  Já são mais de 20, os livros de poesia de sua autoria. Não fiz a contabilidade, mas as contas devem estar certas ou quase. Claro, sou contabilista, logo devia falar em números precisos; mas não estamos aqui para falar de números.

Esta minha intervenção não é senão um intróito para o que já a seguir vamos ouvir do nosso amigo comum e emérito escritor, Luís Vieira da Mota, que ele sim, é a personagem certa para dizer do seu modo de ver a vida e a obra de Carlos Lopes Pires. Até porque são muitos os anos de convívio literário e de franca amizade que já os unem…

De qualquer modo, não posso deixar de aproveitar este ensejo para dizer umas coisas acerca deste livro que agora vai ser apresentado e que fala dos sítios onde as maçãs crescem. Com este título o poeta e amigo Carlos Pires pretenderá o quê? Chamar-nos a atenção para o paraíso que pode ser o sítio onde vivemos neste mundo? Haverá só um mundo? Cada um de nós será um mundo? Teremos que considerar que o mundo não é uma coisa definida antes teremos que admitir que o mundo é um conjunto indeterminado de mundos?!  Mas sendo um conjunto indeterminado de mundos, será que não tem princípio nem fim? Estaremos nós disponíveis para aceitar que o tempo dura tanto tempo quanto o tempo que demoramos a sintonizar o nosso próprio eu?  Ou mais?!

Aqui chegado ocorre-me que a continuidade do tempo poderá não existir no que é eterno, mas sim no efémero e transitório. Ou seja, nas coisas simples a que o amor deverá presidir.

Quero eu tentar dizer que a poesia poderá ser esse espaço entre o transitório e o eterno. E que a poesia de Carlos Lopes Pires revela esse carácter e essa sensibilidade. E, visivelmente, também se rebela contra as convenções da literatura tradicional que tende a ambicionar o eterno da fama e notoriedade pessoal através da palavra.

A poesia de Carlos Pires assume uma atitude de contributo para que as pessoas se possam compreender a si próprias cada vez melhor. Para isso o poeta não se cansa na procura de novos modelos para a representação do mundo e da realidade, transportando a sua própria realidade e a que ele observa a partir da dos outros. E com uma preocupação suplementar: a de renovar as coisas reais e reintegrá-las na vida.

A poesia, tal como Carlos Pires nos sugere, é quem melhor nos pode induzir ao interesse pelas coisas simples e a compreensão destas, sim, é que nos poderá levar a perceber a complexidade da vida.

Ou seja, e para finalizar esta minha singela divagação, pressente-se que o poeta tende a mostrar-nos o sentido da vida impulsionando o leitor a sair de situações desesperadas e a recuperar o desejo duma vida simples mas sem perder a sua capacidade de sonhar.

Carlos, meu amigo, mestre, a tua poesia tem sido para mim um bálsamo muito especial contra o medo da minha ignorância.

E um grande estímulo para descomplicar a vida aceitando os princípios cósmicos que orientam a nossa própria existência.

Mais não vou acrescentar a este meu testemunho, que o Luís Vieira da Mota, por ti muito justamente homenageado dedicando-lhe expressamente este teu livro, se vai encarregar a preceito, de tal missão.

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Obrigado, poeta, pela poesia com que tens ajudado a vestir o mundo e mostrar que vale a pena o convívio de que todos nós necessitamos, mas que nem sempre o conseguimos alcançar.

Obrigado por seres um amigo com quem também é possível dialogar com o recurso ao poema…  

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Claro, não podia deixar de vos ler o poema da página 80, dada a afinidade que o passou a ligar a mim, pessoalmente, e que eu agradeço do fundo do meu coração o carinho que nele e em nós se reflecte.

Leiria, 12 setembro 2020

António Nunes

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(ver reportagem mais completa sobre o lançamento deste livro em 

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